segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Anísio Teixeira - trabalho, felicidade e momento presente

Amo o meu trabalho.
Faço o que sempre sonhei.
E hoje, lendo o grande educador brasileiro Anísio Teixeira, encontrei a defesa desse princípio: que as pessoas possam se ocupar daquilo que gostem. Tanto os adultos, como as crianças nas escolas.
Um gênio da educação que ainda foi pouco ouvido.

Vejamos:

Em seu livro "Pequena introdução a filosofia da educação" ele vem discutindo a questão de como erramos quando consideramos a vida um conjunto de sacrifícios e esforços sofridos para se obter a felicidade futura (seja nesta ou na outra vida). E de como as pessoas que pensam assim julgam que o homem não gosta de trabalhar e se o faz é para obter um benefício futuro.
Tudo errado. Para ele o homem, desde criança, gosta de estar em atividade, de se envolver em ocupações diversas e a sua felicidade só pode ser vivida no presente, no fazer aquilo que mais gosta.
Vamos ler o que diz o professor?

"Há um grupo de homens para quem o trabalho é a sua própria alegria. Sobretudo os artistas e os que dão à sua própria vida a natureza de uma obra de arte, conseguem esse resultado surpreendente.
E o que faz desse trabalho ou dessas vidas uma realização harmoniosa de prazer e de alegria? É que o trabalho vale por si mesmo, e não é uma simpes atividade que se perfaz pelo resultado externo que dela poderá advir. O quadro, a escultura ou o livro poderão ser vendidos e daí retirar o autor o prêmio externo de seu esforço. Uma remuneração mais alta, porém, a do prazer, da paixão e do amor do próprio trabalho já lhe deu a compensação essencial.
A atividade do artista, como a atividade da criança, é a atividade em que se resumem as suas próprias vidas. O seu trabalho, o seu prazer e a sua missão, tudo se funde em um só esforço integrado e harmonioso.
Todo o trabalho humano devia participar dessas qualidades. Nesse dia, o próprio trabalho daria a felicidade. (...)
Agindo somente por obrigação a sua atividade se dissocia entre o que ele quer e o que ele faz, e, com essa dissociação lhe foge a sadia alegria de viver e de trabalhar.
O período de labor torna-se, então, um período de desconforto e opressão. Apenas liberto dessa obrigação monótona e fatigante, procura as excitações do prazer superficial e grosseiro.
Assim está organizada quase toda a vida moderna. Os moralistas conservadores teriam razão, se as coisas não pudessem mudar. Se o que é hoje, tivesse que o ser para sempre. O seu erro maior está exatamente aí. As suas doutrinas alimentam-se da convicção de que as coisas são assim e não podem ser de outro modo. Daí o esforço de toda moral para criar compensações.
E com isso, desencorajam as mudanças e as transformações, negam valor as experiências novas e buscam emprestar, não sei porque receio, uma significação supersticiosamente sagrada as instituições de nossa época."

E conclui:

"A vida será boa se a nossa atividade, em si mesma, e por si mesma, for agradável e satisfatória.
A atividade não será, deste modo, uma preparação para um bem futuro e remoto, mas, ela mesma, esse bem.
Não vamos ser felizes no futuro. Ou seremos felizes agora ou não o seremos nunca. Vivemos no presente e só no presente podemos governar a vida. O futuro é imprevisto e imprevisível.
(...)
Deve-se partir para a vida como para uma aventura.

(...)
Os sofrimentos devem ser recebidos com uma saudável coragem. Contribuem para dar uma querida nota heróica a vida.
São as sombras que põem em relevo as luzes e as cores da existência..."

páginas 128 a 132

Vamos fazer a vida como quem faz uma obra de arte.
Arte de viver.

Mais a frente faremos a relação disso tudo com os princípios do Zen Budismo e do Baghavad Gita. Tudo a ver!

Bom trabalho!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ética e a leveza da paz - SOU FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Vinha andando pela rua a caminho do trabalho.
Hoje era dia de levar as passagens para pedir ressarcimento.
Viajo toda semana a trabalho e a Universidade paga meu transporte.
Na carteira além das 3 passagens, havia mais duas que não foram usadas pois aproveitei caronas no carro de colegas.
Um diálogo muito comum se iniciou:
- entrega as 5.
- mas só 3 foram usadas.
- destaca o canhoto e entrega como se tivesse usado. afinal, o seu colega pagou a gasolina. você foi trabalhar. é como se você tivesse ido de ônibus.
- mas não fui.
- que diferença faz? são R$ 76 a mais para você.
destaquei o canhoto e juntei as duas passagens as outras três.
continuei meu caminho pensando se estava certo ou errado.
Até que peguei as duas passagens, rasguei-as e joguei-as na lixeira.
Subitamente uma leveza e uma paz tomaram conta de mim.
- você é bobo - podem dizer
- sou ético. acredito na ética.
- ficou mais pobre do que poderia.
- fiquei mais leve do que estaria. dinheiro não compra a paz, não compra caráter.
Resolvi divulgar isso.
Pode ser mais uma estratégia do ego .
Que seja, decidi que as pessoas precisam começar a saber que é possível e vale a pena ser ético.
Resolvi começar a dizer com orgulho: SOU FUNCIONÁRIO PÚBLICO.
Paz!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aperto de mão e olho no olho

Segunda-feira, dia 5 de dezembro,
mais uma semana se inicia
mais uma vez o bem foi proclamado.
Hoje, no café da manhã com nossos irmãos que vivem nas ruas, estávamos agradecidos pelas doações: pão, café, suco, iogurte, broa de milho, chocolate quente, banana e humanidade.
Pois é,
nos reunimos debaixo das arvores do aterro as 7:30.
Um dos nossos voluntários deu uma ideia muito boa e a colocamos em pratica. Quatro voluntários de nosso grupo, antes de tudo começar, se dirigiram aos irmãos sentados que aguardavam o café e foram apertando a mão e dando um bom dia, dizendo que esperam que seja um dia melhor, com paz e esperança em seus caminhos.
Depois fizemos a partilha do pão, a oração e então distribuimos o alimento.
Parecia um dia como outro qualquer.
Mas havia uma calma no ambiente, um respeito, uma atitude de tranquilidade em toda aquela gente (eram mais de 100).
De onde vinha aquela paz?
O que houve de diferente nessa manhã?
Por que as pessoas estavam tão mais calmas do que de costume?
É porque foram tratadas como gente. O aperto de mão criou um vínculo. O olhar no olho estabeleceu entre nós uma relação de ser humano.
Se ficássemos só no trabalho mecânico como se o café e as coisas materiais fossem a coisa mais importante, perderiamos a melhor parte (Lc 10,42). E eles também.
Quando as pessoas agem com brutalidade é porque as tratamos com a bruta indiferença.
Os homens da lei, não percebem essa Lei. (estou falando do modelo burocrático-legal vigente nas insituições sociais e na cultura da doação de caridade)
Quando tratamos com respeito e dignidade as pessoas nos tratam com respeito. Nem é preciso pedir respeito, ele se faz.
Sonho com o dia em que sentaremos a mesma mesa.
Vamos caminhando.
Que nossa semana seja iluminada.
Que haja paz, que haja saúde, que haja felicidade.
Bom dia!

domingo, 20 de novembro de 2011

O caminho espiritual – metáfora de João e o pé de feijão


Há uma história que povoa nosso imaginário infantil sobre a qual gostaria de extrair reflexões sobre o caminho espiritual. Ao que parece, é uma história de origem inglesa, do início do século XIX, e que possui algumas versões diferentes. Vamos contar uma versão simplificada ressaltando alguns elementos simbólicos que nos parecem importantes. Antes de mais nada cabe dizer que há várias possibilidades de interpretação simbólica de histórias infantis, mas vamos ousar fazer uma que aponte para a essência do caminho espiritual.
De uma forma simplificada podemos contá-la assim:
Num reino distante, vivia uma pobre mulher com seu filho, chamado João.  Um dia a mãe pede a João que vá ao mercado vender a vaca, seu último recurso para obter dinheiro. O menino vai.
No meio do caminho encontra um homem estranho. Olhos soturnos, cavanhaque comprido que lhe oferece pela vaca, alguns feijões mágicos, prometendo-lhe que os feijões lhe trarão imensa riqueza. O menino estranha a proposta mas termina por aceitar.
Ao chegar em casa sua mãe se desespera. Joga os feijões pela janela e põe o filho de castigo.
No dia seguinte, uma sombra entra pela casa. Ao olhar para fora, João vê que as sementes germinaram, as hastes grossas entrelassavam-se e uma imensa árvore parecia conduzir ao céu.
E João reolve escalar o pé de feijão. Até que chega a um lugar muito alto. Então vai andando e vê uma casa imensa. Uma casa de gigante. Chega na casa e a mulher do gigante o recebe. É ela quem o acolhe no interior da casa, mas avisa para tomar cuidado com seu colérico e impiedoso marido. Ele então se alimenta. Quando o gigante acorda, João corre e se esconde dentro do forno. De lá, João vê o gigante colocar uma galinha sobre a mesa, vê também como essa galinha punha ovos de ouro, proporcionando ao gigante uma riqueza sem fim.
João espera que o gigante durma novamente, após uma farta refeição. Sai do forno, pega a galinha dos ovos de ouro e corre em direção a saída. Na versão completa da história João faz três visitas a casa do gigante e leva, além da galinha, sacos de ouro, e uma harpa de ouro encantada.
Após sair da casa, o gigante acorda e vai em sua perseguição. Coração acelerado João corre e desce pelo pé de feijão. Ao chegar lá embaixo, pede a mãe um machado e corta a árvore. Então o gigante cai com a árvore e morre.
João e sua mãe vivem felizes com a fartura proporcionada pela galinha dos ovos de ouro.
Um exercício de interpretação...
Essa história fala do encontro interior de cada um de nós, de nossa busca espiritual. Um caminho arriscado, que pressupõe aposta, que envolve medo, coragem, ousadia, mas também proteção divina. Um final feliz que só depende de si mesmo e sua vitória sobre o homem-velho, seu monstro interior.
João sai da casa, sem a mãe: é o passo do livre-arbítrio. O início da maturidade, o momento em que fazemos nossas próprias escolhas e podemos nos libertar do paradigma imposto pela família e pela sociedade, pelas convenções vigentes.
O sacrifício da vaca é um momento crucial: é ela quem me dá o sustento, sem ela como sobreviverei? Simboliza o medo do jovem sem a mãe, sem a estrutua emocional herdada da família, da sociedade. É também a zona de conforto.
O homem estranho, vendedor de feijões mágicos é o caminho espiritual, sempre visto com enorme desconfiança por parte do nosso ceticismo. Sempre a figura do prestidigitador a nos iludir.
Mas a criança inocente que há em nós aceita os feijões. Assim, cada um traz dentro de si a vontade de crer, a boa vontade para ir além do materialismo.
No entanto, João enfrenta a reprovação da mãe. É a reprovação da sociedade que mata, queima, crucifica aqueles que saem dos padrões.
E o pé de feijão se mostra real. Ao menos para ele. Nada garante que esse momento não é um sonho, uma visão interior, uma vez que só o menino sobe e não há referências a mãe nesse momento da história. Ao contrário, a mãe só reaparece ao final.
Um mundo real se apresenta. O mundo com o colorido da nova fé. Vai ao céu. Se encanta. É acolhido numa casa imensa. Recebido e protegido por um mulher: símbolo do acolhimento feminino, proteção. Não há caminho espiritual de solidão, sempre há uma entrega a um poder superior de onde se recebe a graça que o acompanhará no caminho crucial de vitória sobre o monstro-gigante. João não está só, conta com amparo do mais alto.
A galinha dos ovos de ouro: os rios de água viva, a fonte da eterna juventude, o fim do sofrimento, a promessa de todas as religiões. Existe mas está aprisionada pela figura do Gigante, o ego, a gula, representando nosso homem-velho (da tradição cristã) a ilusão (maya no hindu).
João age com astúcia e fé em busca da vitória sobre o inimigo. Ao estudar os movimentos do gigante (autoconhecimento), espreita-o, e age de forma a não se deixar maltratar por ele novamente (algumas versões contam que o gigante, no passado, havia matado o pai de João).
E, ao fim, corta o pé de feijão, destruindo definitivamente o gigante, alcançando o estado de bem aventurança, a emancipação espiritual, a vitória sobre o sofrimento, a felicidade esperada, a espontaneidade do bem, não mais afetado pelo domínio do mal.

Interessante que corta a árvore também. Depois que se chega, não é preciso mais caminho. É o fim das religiões, das normas, das palavras, que se antes serviram para iniciar o caminho, mantê-las seria aprisionamento. É o silêncio dos místicos, o amor sem fronteiras dos santos.

Que todos sejam felizes!
paz!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bruxos que abrem vastidões


Cada vez que acontece de eu me deixar afetar pelos amigos que a vida me trouxe, sinto vastidões se abrindo dentro de mim, novos insights, compreensões que me trazem cada vez mais abertura para o outro.
Todos trazem a Divindade.
Todos tem um pouco de bruxo.
Todos ensinam.
Pobre de mim... se preso a um rebanho.
Agora,
o segredo está em deixar-se afetar.
Isso tem a ver com escuta. Até que o Outro se revele.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Louvada Seja a Dança



Louvada seja a dança
porque ela liberta o homem
do peso das coisas materiais,
e une os solitários
para formar sociedade.

Louvada seja a dança,
que tudo exige e fortalece,
saúde, mente serena
e uma alma encantada.

A dança significa transformar
o espaço, o tempo e a pessoa,
que sempre corre perigo
de se desfazer e ser ou somente cérebro,
ou só vontade ou só sentimento.

A dança porém exige
o ser humano inteiro
ancorado no seu centro,
e que não conhece
a obsessão da vontade de dominar
gente ou coisas, e que não sente
a demonia de estar perdido
no seu próprio ser.

A dança exige o homem livre e aberto
vibrando na harmonia de todas as forças.

Ó homem, ó mulher, aprenda a dançar
senão os anjos do céu
não saberão o que fazer contigo.

Santo Agostinho
(extraído do livro "Ensaios de Dança" da professora Cristina Marinho Rohr)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Virtudes dos professores


Eis um texto chinês antigo.
Será que ajuda a pensar a vida do professor hoje?
É possível formar professores dentro dessa perspectiva?

“Os antigos Mestres da vida
Eram profundamente identificados
Com as potências vivas do Cosmos.

Em sua profunda interioridade
Jaziam a grandeza e o poder
Da sua Dinâmica atividade.

Quem compreende, hoje em dia, esses homens?
Sábios eram eles,
Como barqueiros que cruzam um rio
Em pleno inverno;

Cautelosos eram eles,
Como homens circundados de inimigos;

Reservados eram eles,
Como se hóspedes fossem;

Amoldáveis eram eles,
Como gelo que se derrete;

Autênticos eram eles,
Como o cerne de madeira de lei;

Amplos eram eles,
Como vales abertos;

Impenetráveis eram eles,
Como águas turvas.

Impenetrável também nos parece
A sua vasta sabedoria.
Quem pode compreendê-la atualmente?
Quem pode restituir a vida
Ao que tão morto nos parece?

Só quem sintoniza com a alma do infinito!
Só quem não busca seu próprio ego,
Mas demanda o seu Eu real,
Mesmo quando tudo lhe falta.”


Texto extraído do Livro “Tao Te Ching”, de Lao Tsé, editora Martin Claret, página 53.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Agradecimento aos professores


Aqui vai o texto de Diego, lido ao final da palestra de Dora Incontri, sobre Educação e Espiritualidade, no encerramento de nossa semana científica no IEAR, UFF, Angra dos Reis.

A beleza está na gratidão, ou seja, ver as qualidades de todos.


Agradeço primeiramente à Dora Incontri, porque graças a seus livros e suas ideias que optei mudar de profissão, a ariscar em meus sonhos, de um dia me tornar um filósofo da educação. E não por acaso estou aqui no IEAR para me tornar um ótimo Pedagogo. (Obs.: Agradeça ao Alessandro Bigheto por suas contribuições e por sua forma apaixonante de falar da filosofia. Porque o melhor fertilizante para uma pequena árvore sonhadora são as lagrimas embalsamadas de paixão.)

Agora em ordem de chamada vou agradecer aos meus professores:

Anderson Tibau, agradeço a você, professor, por aquela pergunta respondida de mestre e discípulo onde pude conhecer você mais profundamente e onde você me provocou ainda mais profundamente. Obrigado!

Andréia Pavão, agradeço a você, professora, por sua seriedade em dizer o que precisa melhorar, em me dar chances de escrever e rescrever várias vezes até aprimorar minha escrita, por ter todo esse cuidado e atenção comigo. Obrigado!

André Dias, agradeço a você, professor, por sua alta sensibilidade ética, por nos respeitar a tal ponto de ser julgado como arrogante, e suportar esse fardo, cada dia mais enxergo a sua paixão e aprendo a apaixonar-me, buscando tornar-me um bom intelectual como nossas conversas de aula. Obrigado!

André Pereira, agradeço a você, professor e 1o Pai acadêmico, por ser além de mestre um fecundo amigo em quem posso confiar, em quem posso encher o saco e ficar perguntado até você não mais aguentar. Agradeço por sua fecunda espiritualidade e amor, que ajuda-me a tornar-me cada vez mais humano. Obrigado!

Augusto, agradeço a você, professor, pelo seu jeito “Exu” de ser, brincalhão e descontraído, sensível e responsável. Obrigado pelo seu comprometimento, por sua persistência e dedicação. Sinto muito não ter “memória corporal” para dançar nas suas aulas, mas foi nelas que eu comecei a desenvolve-la, valeu pela oportunidade. Obrigado!

Cida, agradeço a você, professora, por ser uma das mais meigas professoras desse instituto, por ser tão sensível e ao mesmo tempo tão crítica a esse mundo que vivemos, obrigada por ser tão carinhosa e dedicada conosco, para quem optou por não estar com você nesse período, sinto muito. Obrigado!

Cláudio, agradeço a você, professor, por ensinar essa temporalidade da análise, do estudo, das descontrações, da crítica. Valeu por não ter pressa, valeu por sempre nos apoiar enquanto estudante e de sempre nos incentivar na luta por mudanças. Obrigado!

Dagmar, agradeço a você, professora, por me potencializar, por algum motivo ter escolhido o dispositivo cognitivo que me tocasse, provocando-me ao molecular e não ao molar. Por me fazer refletir e olhar com outros olhares. Obrigado!

Domingos, agradeço a você, professor, por ser quem mais me esclareceu “o que é ser o Pedagogo”, por sua incrível simplicidade, por admirar profundamente sua humildade intelectual, por sua capacidade extrema de sintetizar e sistematizar as ideias, valeu professor, só precisa de maior paciência de Guarani professor, valeu por esse compromisso com o Outro, com a outras culturas. Obrigado!

Elionaldo, agradeço a você, professor, por sua organização e acompanhamento, por todo seu incentivo constante a estarmos engajados politicamente, por se esforçar em de nos possibilitar todos caminhos possíveis. Obrigado!

Francine, agradeço a você, professora, por seu engajamento nesse evento e em outros, por sua insistência, por sua obstinação e esforço, por ser tão “positivista”, brincadeira. Por ser tão comprometida com a ciência, com o conhecimento e com o humano. Obrigado!

Luciana, agradeço a você, professora, por seu jeito muito animado de dar aula, por discutir assuntos delicados de forma tão lúdica e legal, valeu pela música e pela atenção. Obrigado!

Marcos Marques, agradeço a você, professor e 2o Pai acadêmico, por seu “bom-senso”, por sua incrível capacidade pluralista, por sua incrível capacidade de nos fazer refletir e refletir conosco essa própria capacidade, como você gosta de dizer “vícios e virtudes”, seu vício é ser botafoguense. Mesmo assim, Obrigado!

Onete, agradeço a você, professora, por seu cuidado com a História, por desconstruir todas aquelas concepções fechadas. Por nos fazer refletir nosso próprio país e suas concepções educacionais. Obrigado!

Rodrigo Torquato, agradeço a você, professor, por me fazer acreditar que é possível falar direto com o escritor e não suas mil e umas interpretações, em acreditar que é possível acessar aos clássicos e principalmente pelo seu próprio exemplo de vida. Obrigado!

Rosilda, agradeço a você, professora, por não se esquecer daqueles como eu, que vem de uma cultura onde a história oral e valorizada, por me mostrar fotos dos meninos trabalhadores na história desse Brasil, valeu por essa oportunidade. Obrigado!

Silmara, agradeço a você professora, por sua meiguice e ao mesmo tempo compromisso com qualidade, são ótima todas as nossas conversas, obrigado por me ouvir e dispor de seu tempo em me ajudar e indicar caminhos. Obrigado!

Obrigado a todos vocês que aqui estão, por me ouvir. Desculpas por não falar de todos, mas apenas daqueles que tive contato mais próximo. Agradeço meus companheiros de República, por sua paciência e dedicação em me suportar, obrigado por estarem junto comigo. E para finalizar, obrigado a você Verônica que me ensina o que há de mais importante no mundo “a arte de amar”.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Interpretando mitos do Candomblé


Ogum repudia Oiá por causa de Xangô

Ogum vivia com Oiá.
Um dia seu irmão Xangô foi visitá-lo
e, na casa de Ogum, Xangô deparou com sua bela mulher.
Voltou para casa atormentado pela beleza que vira.
Desejou Oiá ardentemente.
Não desistia da idéia de possuir a mulher do seu irmão.

Xangô voltou à casa de Ogum
dizendo-se doente, nem conseguia se alimentar.
Ogum acudiu-o e pediu-lhe que ensinasse a Oiá
o preparo do seu prato predileto, o amalá,
que sem dúvida saciaria sua fome e o curaria.
Oiá preparou o amalá conforme ensinado.
Antes de comê-lo,
Xangô pediu a Oiá que acrescentasse um pó,
advertindo-a contudo que não provasse da comida.
Xangô comeu com gula e saciou a fome.
A proibição deixou Oiá muito curiosa

No dia seguinte, Oiá fez novamente a comida,
mas desta vez não resistiu e provou dela.
Disse a Xangô não ter sentido nada especial.
Xangô entregou-lhe o pó para acrescentar.
O pó tinha o poder de botar labaredas pela boca.
Oiá pôs o pó no amalá e comeu dele.
Desde então Oiá tem o poder de botar fogo pela boca.
Ogum, ao ver sua mulher cuspindo fogo,
repudiou Oiá e a entregou a Xangô.
Xangô cinicamente recusou a oferta.
Ogum insistiu para que levasse Oiá dali.
Xangô tinha enganado Ogum.
Xangô levou Oiá para casa,
feliz com sua vitória.

[do livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi]

Começando umas interpretações:

1- Interessante a relação entre doença e as nossas tramas escondidas. Ou seja, quando ficamos doentes é porque queremos algo, mas as vezes não temos nem consciência disso.
2- Escutar os desejos profundos na hora da doença.
3- Curiosidade... transgressão... ultrapassar de limites.

Vamos pensando...

Freud explica: Oxóssi mata a própria mãe


Continuando o nosso diálogo entre o Candomblé e o autoconhecimento vale aqui observar que, a semelhança com as discussões da atual psicanálise, podemos pensar o nosso processo de maturidade em conexão com nosso processo de autonomia frente aos pais, simbolicamente expresso na morte destes. Sabemos como Freud se inspirava na mitologia grega, e aqui um exemplo similar pode ser explorado na mitologia iorubá.

Nessa história, Orunmilá (Orixá do oráculo) fora encarregado por Olodumare (o Supremo Criador dos Orixás) a trazer uma codorna, em tempos de escassez. Parte então em busca de um caçador, Oxóssi.
Vejamos esse trecho:

"Orunmilá apresentou-se e disse da sua vontade de falar com aquele caçador.
Todos se curvaram perante sua autoridade e trataram de trazer Oxóssi à sua presença.
O velho adivinho dirigiu-se a Oxóssi e disse que Olodumare o havia encarregado de conseguir uma codorna.
Seria esta, agora, a missão de Oxóssi.
Oxóssi ficou lisonjeado com a honrosa tarefa e prometeu trazer a caça na manhã seguinte.
Assim ficou combinado.

Na manhã seguinte, Orunmilá se dirigiu à casa de Oxóssi.
Para sua surpresa, o caçador apareceu na porta irado e assustado, dizendo que lhe haviam roubado a caça.
Oxóssi, desorientado, perguntou à sua mãe sobre a codorna, e ela respondeu com ares de desprezo, dizendo que não estava interessada naquilo.
Orunmilá exigiu que Oxóssi lhe trouxesse outra codorna, senão não receberia o Axé de Olodumare.
Oxóssi caçou outra codorna, guardando-a no embornal.
Procurou Orunmilá e ambos dirigiram-se ao palácio de Olodumare no Orum.
Entregaram a codorna ao Senhor do Mundo.
De soslaio Olodumare olhou para Oxóssi e, estendendo seu braço direito, fez dele o rei dos caçadores.
Agradecido a Olodumare a agarrado a seu arco, Oxóssi disparou uma flecha ao azar e disse que aquela deveria ser cravada no oração de quem havia roubado a primeira codorna.
Oxóssi desceu à Terra.
Ao chegar em casa encontrou a mãe morta com uma flecha cravada no peito.
Desesperado, pôs-se a gritar e por um bom tempo ficou de joelhos inconformado com seu ato.
Negou, dali em diante, o título que recebera de Olodumare."

[do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]

Iniciando algumas interpretações:
1- Expressa a eterna tendência dos pais sabotarem os planos de autonomia dos seus filhos.
2- Para crescer, o filho precisar romper simbolicamente com os pais, ou seja, com o lugar que os pais insistem em que os filhos fiquem.
3- Para ganhar reconhecimento diante de Deus é preciso seguir seu próprio caminho, sua busca por si mesmo, sua autonomia frente aos pais, tornar-se pessoa, ensimesmar-se.
4- O mito, no entanto, aponta para o fim trágico a que esse processo pode nos levar quando exageramos nessa autonomia, a ponto de não reconhecermos a influencia dos pais em nós, negando também o sentimento de gratidão expresso no "honrar pai e mãe".

Liberdade sim, mas sem orgulho.
A verdadeira liberdade é servir a Deus.
Percebo muito isso lendo esses mitos do Candomblé, e vendo como os Orixás inspiram-nos temor e reverência.
A natureza é muito poderosa.
A Divindade é muito poderosa.
A Humanidade precisa integrar-se e não dominar.
Se baixarmos a crista, teremos esperança!

paz!

Exu e o autoconhecimento


Lendo os mitos que compõem a tradição do Candomblé, percebemos como são ricos e como expressam nossos sentimentos, desejos, nossas características bem humanas. Falam daquilo que temos escondido. Por essa razão, conhecê-los é um excelente meio de trilharmos o conhecimento de nós mesmos.
Eis aqui um exemplo, uma história que fala sobre Exu, vejamos como fala de nós mesmos e como nos orienta em nosso caminho espiritual.

"Exu era o filho caçula de Iemanjá e Orunmilá,
irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi.
Exu comia de tudo
e sua fome era incontrolável.
Comeu todos os animais da aldeia em que vivia.
Comeu os de quatro pés e comeu os de pena.
Comeu os cereais, as frutas, os inhames, as pimentas.
Bebeu toda a cerveja, toda a aguardente, todo o vinho.
Ingeriu todo o azeite-de-dendê e todos os obis.
Quanto mais comia, mais fome Exu sentia.
Primeiro comeu tudo de que mais gostava,
depois começou a devorar as árvores,
os pastos, e já ameaçava engolir o mar.
Furioso, Orunmilá compreendeu que Exu não pararia
e acabaria por comer até mesmo o Céu.
Orunmilá pediu a Ogum
que detivesse o irmão a todo custo.
Para preservar a Terra e os seres humanos e os próprios orixás,
Ogum teve que matar o próprio irmão.

A morte, entretanto, não aplacou a fome de Exu.
Mesmo depois de morto
podia-se sentir sua presença devoradora,
sua fome sem tamanho.
Os pastos, os mares, os poucos animais que restavam,
todas as colheitas, até os peixes iam sendo consumidos.
Os homens não tinham mais o que comer
e todos os habitantes da aldeia adoeceram
e de fome, um a um, foram morrendo.
Um sacerdote da aldeia consultou o oráculo de Ifá
e alertou Orunmilá quanto ao maior dos riscos:
Exu, mesmo em espírito, estava pedindo sua atenção.
Era preciso aplacar a fome de Exu.
Exu queria comer.
Orunmilá obedeceu ao oráculo e ordenou:
"Doravante, para que Exu não provoque mais catástrofes,
sempre que fizerem oferendas aos orixás
deverão em primeiro lugar servir comida a ele".
Para haver paz e tranquilidade entre os homens,
é preciso dar de comer a Exu,
em primeiro lugar.

(Transcrito do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi).

Começando algumas interpretações:
1- Exu fala da nossa fome insaciável, fala de nossos desejos sem fim. Em nossa tentativa de esconder esses desejos seremos sempre mal-sucedidos pois ele sempre pedirá atenção.
2- Se não reconheço meus desejos (minhas tendências), por mais que tente buscar grandes realizações, não conseguirei evitar a catástrofe.
3- Em nosso contato com a Divindade é preciso antes de tudo olhar e atender as cobranças do eu interior mais profundo. Isso me lembra a frase do Sermão da Montanha, em Mt 5: "Se estiveres, no entanto, para trazer a tua oferenda sobre o altar e lá te lembras que um irmão teu tem algo contra ti, deixa lá a oferenda, diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e então, vindo, faz a tua oferta."
4- Qual a relação entre a fome de Exu e a fome no mundo? Será que para resolvermos o problema da fome mundial, temos que olhar para a estrutura de desejos que o capitalismo produz?

paz!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O professor está sempre errado

A pedido dos alunos, eis um texto do Jô Soares.

O material escolar mais barato que existe na praça é o
PROFESSOR!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um 'caxias'.
Precisa faltar, é um 'turista'.
Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não sabe se impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, deu 'mole'.

É, o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele!

domingo, 25 de setembro de 2011

Escola da Rua UFF


Na UFF, pelo projeto de extensão chamado Escola da Rua, produzimos esse simples documentário dando voz a pessoas que moram nas ruas.
Filmado no Rio de Janeiro e em Angra dos Reis essas vozes tentam narrar um pouco de suas vidas, suas histórias e os absurdos por que precisam passar todos os dias.
Arte, sensibilidade, esperança.
Esse vídeo nos emociona.
Obrigatório para todos os que fazem algum trabalho com essa população.
Obrigatório para todos os que sonham em fazer a diferença.
Obrigatório para não perdermos nossa sensibilidade, nas teias dos estigmas sociais que nos endurecem o coração.

http://www.youtube.com/watch?v=9ZGbeJeqHpc

paz!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

World Peace begins with me

May all beings be happy.

Eis um vídeo com diferentes pessoas, de diferentes países, dizendo em suas línguas essas duas frases: A paz no mundo começa em mim. Que todos os seres sejam felizes.
Filmamos essa gente toda num evento mundial que ocorre todos os dias: um parque da Disney chamado Epcot Center. Muito inspirador. Walt Disney o desenhou para estimular as pessoas a criarem um lugar ideal para vivermos. E lá há tendas de diferentes países com pessoas desses lugares trabalhando.
A sigla EPCOT significa Experimental Prototype Community of Tomorrow que em portugês significa Protótipo Experimental Comunidade do Amanhã.

Curtam e compartilhem, especialmente a paz!

http://www.youtube.com/watch?v=FYYsYsfkKNQ

A paz do mundo começa em mim - uma frase da canção de Nando Cordel, um ativista do ecumenismo e da paz.
Que todos os seres sejam felizes - frase do Buda, que ouvi do mestre Goenka (meu professor de meditação)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Por quê?



A meia-noite o aspirante a asceta proclamou: "é chegado o tempo de deixar minha casa e buscar Deus. Quem me manteve aqui por tanto tempo iludido?"

Deus sussurrou: "Eu", mas os ouvidos do homem estavam obstruídos.

Em um lado da cama, sua esposa dormia tranquila com um bebê repousando em seu peito.

O homem disse: "Quem é você que por tanto tempo me enganou?"

Mais uma vez a voz proferiu: "Eles são Deus", mas o homem não escutou.

Em seu sonho o bebê chorou, aninhando-se inda mais em sua mãe.

Deus ordenou: "Pare, não largue sua casa", mas, de novo, o homem não escutou.

Lamentando-se, Deus suspirou: "Por que, para me buscar, meu servo me abandona?"

Rabindranath Tagore

sábado, 13 de agosto de 2011

Um tapa na cara


"Ontem à noite levei um tapa, bem no rosto, na rua, na frente de todos, amigos, conhecidos e desconhecidos. Me enchi de vergonha, me senti humilhado, minha pequenez e impossibilidade de agir se tornaram evidentes. Eu, criança, aprendo como é viver, começo a entender como os adultos agem, como são covardes eles. Um maior do que eu me segura o outro armado me bate. Não sei se quero crescer nesse mundo, se quero me tornar um adulto, com certeza não quero viver como eles, batendo em criança e arma na mão.

Esse tapa não foi no meu rosto, preferia que fosse, foi no rosto de um menino de 8 anos. Meninos de rua, sem ninguém para defendê-los da truculência dos policiais. Tudo isso aconteceu no Largo do Machado, ontem, as 22:00 hs, várias pessoas assistindo ninguém fez nada, nem eu. Assistimos apenas dois homens adultos, fardados com roupa da PM, armados batendo em crianças. Eu também levei um tapa ontem, mas não foi no rosto, foi na alma."


Paula