domingo, 22 de dezembro de 2013

Nada a te oferecer senão eu mesmo...


Uma amiga muito querida começa a namorar. Anuncia no facebook e as pessoas desandam a dizer parabéns. 
Meto-me a filosofar nessas horas. 
Filosofia é sempre um misto de encanto e crítica = espanto. O que é o encontro humano? O que é o encontro de olhares que se veem um no outro como algo mais?
Sinceramente me estranha essa cultura de dar parabéns a quem começa um relacionamento, como se fosse a vitória conquistada, a saída do purgatório da solidão e 'agora sim, você conseguiu alguém'. Isso é prova de uma sociedade que não aprendeu a lidar com o afeto, com a sexualidade, como expressão de pessoas maduras, bem resolvidas, dispostas a se doarem e não mais vivendo na carência desesperada e infantil de alguém que venha lhe 'tirar da solidão'. Vítimas dessa cultura que encontra seu símbolo nos contos de fadas, onde o 'príncipe encontrado' é a cura para todos os males e... enfim... 'viveram felizes para sempre'.
Parabéns dou a quem está se trabalhando, se conhecendo melhor, buscando sair dos velhos hábitos, buscando se lançar no novo, no desconhecido, na aventura do viver. Começar um relacionamento novo, pode ser a maior das mesmices para muita gente, se não há um trabalho interior de renovação e de abertura, de cura das feridas e dos condicionamentos.
Amigos, o que vem depois do 'para sempre'? Cá entre nós... começar um relacionamento é o começo de uma jornada e não o fim dela. E as maiores dores e as maiores tragédias humanas se dão na má condução de si mesmos nesses encontros. Talvez sim faça sentido desejar parabéns no verdadeiro sentido dessa palavra única da língua portuguesa: para bens, porque pode ser para males. E é nos relacionamentos que fazemos mal um ao outro.
Atenção!
Amar é cuidar, respeitar, conhecer, se entregar.
É aí que nos ferimos e ferimos o outro porque não nos conhecemos e não sabemos lidar com nossos desejos, e temos medo de parecer ridículo ao outro e não nos entregamos de fato e a vida a dois tende a uma catástrofe de mentiras e bloqueios.
Desejo a essa amiga queridíssima, esse encanto de pessoa, que possa se entregar a cada momento de sua vida, como vem fazendo, com o coração. Que pense pouco com a mente-neurótica e se doe inteiramente com o coração.
A vida é sempre um desafio.
Desafio de ir além: transcender. Isso vale para os solteiros e vale para os casais.
Transcendemos a nós mesmos só se nos entregamos inteiramente ao momento presente. Essa a magia da vida presente nas grandes filosofias do mundo: 'viver é melhor que sonhar'.
Presença, consciência, entrega.
Tem um texto aqui na parede de casa muito lindo que quero citá-lo nessa hora comovente e sagrada. Que possa te servir de inspiração.
"Eu prometo não te prometer nada. Nem te amar para sempre, nem não te deixar jamais. Nada a te oferecer senão eu mesmo. Nada a te pedir senão que sejas quem tu és, a Verdade é o que melhor temos a compartilhar. Companheiros de uma viagem que está começando, cada vez que nos encontramos novamente."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Libertar meu eu interior - Lição de Anne Frank


Mais uma vez essa menina de 16 anos me emocionando pelos seus ensinamentos.
Ela me surpreende e me ensina coisas novas.
Dessa vez, lendo na turma em sala, destacamos o último dia do seu diário, o dia primeiro de agosto de 1944.

No geral as pessoas acham que são uma só.
Ela reconhece, em sua humanidade, que é um "pequeno feixe de contradições" e diz que há duas Annes dentro dela.

"Já te contei em tempos que não tenho só uma alma mas sim duas."

Isso é maravilhoso de se reconhecer! Não somos um só, temos sempre dois lados. Isso nos faz mais humanos.

Mas há ainda algo mais.

Mesmo pessoas que sabem-se duas, e reconhecem que escondem um dos lado, dizem que escondem o lado ruim, o lado negativo.

Anne nos mostra algo novo. O lado que ela esconde, é justamente o lado melhor. Onde há mais amor, mais sentimento, mais profundidade. Esse ela esconde por ter medo de que os outros zombem dela. 

Ela diz: "Uma dá-me a minha alegria exuberante, as minhas zombarias a propósito de tudo, a minha vontade de viver e a minha tendência para deixar correr, isto é, para não me escandalizar com flertes, abraços ou uma piada inconveniente. Esta primeira alma está sempre à espreita e faz tudo para suplantar a outra que é mais bela, mais pura, mais profunda. Essa alma boa da Anne ninguém a conhece, não é verdade?"

Como é doloroso ouvir isso. Saber que a parte boa fica escondida. Que desperdício para todos nós... Ela fica entre um lado superficial e um mais profundo: "Este meu lado superficial tentará sempre afastar o outro, o mais profundo, e alcançará, por isso, a vitória."

E isso nos faz pensar tantas coisas...

Vivemos num mundo de repressões. E achamos que se soltarmos nosso lado interior o mundo seria um caos.

Mas é o contrário. Des-reprimir, des-controlar, será permitir que o nosso lado oculto, que é puro, inocente, amoroso e profundo revele-nos uma forma de viver mais bela e plena, com mais alegria e comunhão entre as pessoas. 

E temos medo justamente de mostrar o nosso lado melhor. "Tenho medo de que todos os que me conhecem, tal como costumo ser, possam descobrir o meu outro lado, o mais belo, o melhor. Tenho medo de que trocem de mim, me achem ridícula e sentimental, e não me tomem a sério. Estou habituada a não ser tomada a sério."

Por isso, o convite é: seja você, em sua profundidade. Se as pessoas vão te achar ridículo, aproveite e ria do seu eu ridículo antes deles. Liberte seu eu interior. Ele é bom.

Obrigado Anne Frank, minha menina-amiga.
Obrigado mais uma vez.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Quem é Jesus?


O Natal se aproxima e como professor, trabalhando numa universidade, convivendo nos círculos acadêmicos, eis que a pergunta por Jesus se faz viva novamente.

Vários colegas cientistas, de diversas opiniões a respeito da fé, mas em geral, silenciosos a respeito desse tema nos meios onde há uma dominante cultura materialista, irão comemorar o Natal com seus familiares, e se verão mais uma vez, assim como eu, indagados acerca de Jesus.

Hoje, lendo um livrinho de Chico Xavier (e Emmanuel) onde eles comentam diversas passagens do Evangelho, encontrei essa que se dirige a todos nós: acadêmicos.

Está no livro chamado: Pão Nosso, no capítulo 161. E o trecho comentado é quando Jesus pergunta aos discípulos: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (Lc 9, 20).

O comentário é uma boa provocação, que gostaria de compartilhar nesse momento (sublinhando alguns trechos):

"Nas  discussões  propriamente  do  mundo,  existirão  sempre  escritores  e  cientistas  dispostos  a examinar  o  Mestre,  na  pauta  de suas  impressões  puramente intelectuais, sob os pruridos da presunção humana.
Esses amigos, porém, não tiveram contacto com a alma do Evangelho, não  superaram  os  círculos acadêmicos  e  nem  arriscam  títulos  convencionais,  numa  excursão  desapaixonada  através  da revelação divina;  naturalmente,  portanto,  continuarão  enganados  pela  vaidade,  pelo  preconceito  ou  pelo temor que lhes são  peculiares  ao  transitório  modo  de  ser,  até  que  se  lhes  renove  a  experiência  nas estradas da vida imperecível.
Entretanto,  na  intimidade  dos  aprendizes  sinceros  e  fiéis,  a  pergunta  de  Jesus reveste-­se de singular importância.
Cada um de nós deve possuir opiniões próprias, relativamente à sabedoria e  à misericórdia com que temos sido agraciados.
Palestras  vãs,  acerca  do  Cristo,  quadram  bem  apenas  a  espíritos  desarvorados no caminho da vida. A nós outros, porém, compete o testemunho da intimidade  com  o  Senhor,  porque  somos  usufrutuários  diretos  de  sua  infinita  bondade.
Meditemos  e  renovemos  aspirações  em  seu  Evangelho  de  Amor,  compreendendo a impropriedade de mútuas interpelações, com respeito ao Mestre,  porque  a interrogação sublime  vem  d’Ele  a  cada  um de  nós  e todos  necessitamos  conhecê­-lo, de modo a assinalá­-lo em nossas tarefas de cada dia."

A reflexão aponta para a presunção do intelectualismo que não considera outras formas de conhecer a realidade, que não seja a racional. De fato, alguns de nós, ainda excessivamente modernos em matéria de epistemologia, ainda não percebemos o lugar das emoções, dos sentimentos, da sensibilidade, da corporeidade, da intuição e do impulso de transcendência na própria busca de conhecer a realidade que nos cerca.

O texto questiona ainda o obstáculo epistemológico dos sábios do mundo, que se alimentam de uma estranha articulação entre saber e poder, denunciando que nossa recusa em mudar paradigmas decorre de um apego ao título e ao lugar social que ocupamos.

E o que me toca profundamente é o desejo de participar dessa "intimidade dos aprendizes". Conhecer é se fazer íntimo.

Tão belo isso!

Só aquele que ama pode conhecer o outro, dizia Victor Frankl.
Erich Fromm mostra que o inverso também é verdadeiro: só se pode amar aquele que se conhece.

O convite à intimidade me soa como um convite a um viver perto, com abertura de coração.
Só aqueles que já viveram intimamente com alguém podem saber do que se trata.

Entrega, aceitação do outro, aceitação de si mesmo. Intimidade dá medo porque o outro vai conhecer e descobrir que somos ridículos, vai entrar em contato com aquilo que a gente tenta esconder sob máscaras e "papéis sociais".

Essa página me convida a debruçar-me filosoficamente ao significado do Natal. Para nós, que vivemos da pesquisa científica, é um convite a um outro paradigma, já anunciado por diversos pensadores.
É sair do paradigma do saber-poder, e adentrar no paradigma do amor-saber.

Olhe nos olhos daqueles que convivem com você e se perguntem: quem é você? de onde você veio para partilhar dessa vida, e dessa intimidade, e dessa entrega absoluta que me amedronta porque vai além do controle da mente neurótica-racional-controladora? Quem é você?

O texto, ou ainda, o Natal, nos convidará a olhar para essa dimensão de transcendência com esses olhos inocentes.

Mais do que comunidade de cientistas ou sábios, quero participar dessa comunidade de aprendizes, aqui sim, poderá haver intimidade, porque, só como aprendizes podemos fazer aquele gesto de entrega dos que sabem que não sabem.

Sinto que esse é o retorno da boa filosofia.

Jesus tem muito mais afinidade com Sócrates e com todos os pensadores que tiveram a humildade do verdadeiro espírito científico, todos aqueles que tiveram verdadeira reverência ante ao mistério da vida.

E os pretensos sábios e doutos, continuaram falando às paredes, sob aplausos dos fantasmas sem vida que os rodeiam.



domingo, 8 de dezembro de 2013

Vida na rua


A vida é chata, é rotineira por aqui
Por isso que as pessoas pensam logo em sumir.
Pensa que o mundo lá fora é brincadeira
Mas são sexo, drogas e justiça na cadeia.
Querem curtir bastante a liberdade
Mas seus olhos brilhando cheios de felicidade.
Iludida na rua pensando em se dar bem
Mas acaba voltando pra FEEM.
Daqui vou pra Copacabana
Querendo comida, agasalho e boa cama
Mas quando percebe cai logo na real
É puro balanço e muito marginal.
Tem homem bonzinho que te compra até pastel
Depois te convida logo pro hotel.
Se não tiver cabeça e também não se cuidar
Uma AIDS da vida você pode até pegar
Queremos curtir, conhecer o mundo inteiro
Mas só que pra isso tem que ter muito dinheiro.
Pois a vida não é só se aventurar
Você tem que se manter porque precisa trabalhar.

Adriana Neto, compôs esse rep, com outros companheiros quando estavam no Educandário Santos Dumont (Degase)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O despertar para a felicidade, por Anne Frank



Sou apaixonado por essa menina.
Leio e releio o seu diário, com a ajuda dos meus alunos, a cada semestre.
E sempre vou às lágrimas. E gostaria muito de me encontrar com ela.
Ontem, na aula, foram destacados dois trechos.
E vejam que interessante!
Vendo o processo de amadurecimento de Anne, podemos perceber uma relação direta entre o despertar do desejo de união sexual e o seu despertar espiritual. Há muito que se fala sobre a relação entre sexualidade e o sagrado, tema tão empobrecido em nossa cultura cristã.
Aqui, na vivência dessa menina de 14 anos, escondida no anexo de um escritório de Amsterdã, fugindo da perseguição nazista, podemos perceber esse aflorar de desejos de comunhão e de transcendência, com toda a sua beleza e toda a sua alegria que o amor à vida desperta. Amar um menino, amar a natureza, amar a Divindade. Vejam só, a partir desses trechinhos destacados de seu diário (o diário mais lido em todo o mundo). E vejam quantas lições de amor, de reverência ao belo... verdadeiras lições do que seja uma verdadeira espiritualidade que eleva o humano...

"Quarta-feira, 23 de fevereiro de 1944

Querida Kitty,
(...) Lá fora o tempo está lindo e, desde ontem, sinto-me bem mais animada. (...) De meu lugarzinho favorito no chão, contemplo o céu azul e o castanheiro despido, em cujos galhos as gotinhas de chuva brilham feito prata, e as gaivotas e os outros pássaros a deslizar no vento. (...) E eu pensei: 'Enquanto existir isso, enquanto eu estiver viva e eu puder contemplar este sol e este céu sem nuvens, enquanto isto existir, não poderei ser infeliz'.

O melhor remédio para os que sentem medo, solidão ou infelicidade é ir para um lugar ao ar livre, onde possam estar sozinhos com o céu, a natureza e Deus. Só então a gente sente que tudo está como deve estar e que Deus nos quer ver felizes na beleza simples da natureza. Enquanto isso existir - e certamente existirá -, sei que sempre haverá consolação para todas as tristezas, sejam quais forem as circunstâncias. Acredito firmemente que a natureza traz alívio a todas as aflições.

Terça-feira, 7 de março de 1944

(...) No princípio do ano, minha segunda grande transformação, meu sonho [foi um sonho em que ela beijava um menino chamado Peter]. Com ele descobri meu desejo, não de ter uma amiga, mas um amigo. Descobri também a felicidade interior e a armadura de superficialidade e alegria que usava para me defender. Aos poucos fui me tranquilizando e descobri o desejo que tenho por tudo quanto é belo e bom.

À noite, quando me deito para dormir, ao terminar minhas orações com as palavras 'agradeço-vos, meu Deus, por tudo quanto é bom, amável e belo’, sinto-me invadida pela alegria. Então penso na sorte de estar escondida, em minha saúde e, com todo o meu ser, penso em Peter, na ‘gentileza’ de Peter e em tudo quanto está, ainda, embrionário, e a que nenhum de nós ousa dar nome ou tocar, em tudo que há de vir um dia: no amor, no futuro, na felicidade e na beleza que existe no mundo, na natureza, no belo e em tudo quanto é extravagante ou lindo.

Não penso nas misérias, mas em toda a beleza que persiste. Este é mais um ponto em que mamãe e eu não concordamos. ‘Pense na miséria do mundo e dê graças por não compartilhá-la’. Meu conselho é o seguinte: ‘Saia, vá para o campo, goze a natureza e o sol, vá para fora e tente recapturar a felicidade em si própria e em Deus. Pense em toda a beleza que ainda resta e você e à sua volta e seja feliz.’
Não aceito a ideia de mamãe estar certa. Como nos comportaríamos então, se passássemos pela miséria? Estaríamos perdidos. Ao contrário, descobri que sempre resta alguma beleza no sol, na natureza, na liberdade, em você mesma.

Você se encontra consigo e com Deus e retoma o equilíbrio.

E quem é feliz, faz feliz os outros. Aquele que tem fé e coragem jamais perecerá na desgraça.

Sua Anne."


Então, fica aqui o nosso convite: de mais abertura. Abertura ao amor, ao futuro, à natureza, ao anseio de transcendência e beleza que há dentro de cada um de nós. Amar é desfrutar a vida. O amadurecimento de Anne se dá junto a um embate interno com os valores de sua mãe, com toda a crise que essa adolescente genial viveu. E aqui, nesse choque de perspectivas, fica uma reflexão profunda porque põe em contraste dois paradigmas de vivência de espiritualidade: de um lado a espiritualidade da dor, do sofrimento, do castigo e da tristeza e de outro uma espiritualidade do prazer, da gratidão, do amor e da alegria. O mundo está massacrado pela primeira. Anne Frank nos faz um convite a um giro revolucionário: permita-se essa inversão também! Experimente gratidão! Seja feliz!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Também sou Batista



E tudo quanto fizer prosperará" Salmos 1, 3.

Tive uma experiência maravilhosa!!!
Nesse domingo acordei as 6hs da manhã para ir a Volta Redonda visitar uma Igreja e um projeto social à convite de uma amiga/aluna da UFF. A nossa querida Gleice tem sido uma luz que irradia à sua volta e estava curioso para conhecer de perto sua comunidade: a Igreja Batista Missionária de Volta Redonda. Foi uma experiência incrível!!!
Me buscaram de carro na rodoviária e fomos ao bairro Santa Cruz.
Que surpresa maravilhosa entrar na igreja marcada pela simplicidade e encontrar um grupo de pessoas, de todas as idades, realizando um estudo bíblico, e todas viraram-se para trás e sorriram espontaneamente como se recebessem um amigo já conhecido de longa data.
É muito bom receber sorrisos espontâneos.
Todos me acolhendo e dando boas vindas.
Me senti, de imediato, num grupo verdadeiramente cristão.
Nem sempre onde há alegria, há cristianismo, mas onde há cristianismo, tem que haver alegria!
Estudos em grupo, momentos de emoção e de compartilhar as interpretações. Acolhimento e real fraternidade. Me emocionei bastante, especialmente com a presença dos jovens.
Depois fui descansar e esperar o almoço, feito ali mesmo, em comunidade.
Conheci o espaço da igreja e do IDE, Instituto de Desenvolvimento Estratégico, uma ONG que atua em diversos projetos, especialmente voltada para o desenvolvimento de pessoas, a partir da infância.
E aproveitei para ouvir as histórias das pessoas, especialmente da missionária que me convidara para estar ali.

Na hora do almoço, a oração foi feita por uma criança. E depois da oração dela (que pelo visto foi envergonhada e silenciosa) ninguém falou mais nada, ninguém a completou. Ou seja, a participação da criança tem a legitimidade de um igual. Aí comecei a perceber que estava realmente num grupo muito especial. Onde a criança tem voz, onde há uma participação livre e legítima das crianças, há uma compreensão humana mais sensível e profunda. Estou com todos os grandes educadores progressistas da humanidade como Rousseau, Pestalozzi, Janusz Korcak e me admirei de encontrar esse espírito no grupo simples ali da igreja.
Mais gestos cristãos: fui servido. E percebi que cada um servia o outro. E o faziam com alegria.
Após o almoço fui finalmente conhecer a Casa Missionária, que fica no bairro vizinho, Santa Rita do Zarur. Estava numa expectativa muito grande de conhecer essa casa porque soube pelas histórias contadas pela Gleice que as pessoas que se decidiam ser missionárias, saíam de suas casas e vinham morar juntas aqui, num mesmo teto, num exercício de renúncia total e entrega a uma causa que, em suas palavras, era para a “Glória de Deus”. Eu ainda não entendia bem como era isso e queria ver de perto. Pude caminhar alegremente com Gleice e sua irmã Gleiciany pelas ruas, debaixo de um sol muito, muito, muito quente e recebemos o alívio numa lanchonete onde tomei um açaí com morango para ficar pra história. E ali ouvimos o dono da lanchonete, o sr. Carlinhos, contar as lembranças dos seus 56 anos na região e de como a paisagem natural se modificou e de como o rio, onde nadava e via sua mãe lavar roupa, foi morrendo com o “progresso” da cidade.
E no caminho, as irmãs falavam e me ouviam com escuta verdadeiramente aberta sobre minhas leituras como estudante das diferentes religiões. Que bom, elas me pareceram verdadeiramente abertas, como encontramos em todas as pessoas de uma espiritualidade legítima. Ouvir o outro só é possível quando não condenamos o seu discurso, mas o aceitamos como legítimo outro. E, para piorar, pobres meninas, também as fiz andar pelas ruas, com o constrangimento de estar ao lado de um homem sem camisa e com um jeito de andar que está longe de um crente tradicional. E isso, ao que me parece, não as incomodou. Gostei de ser acolhido assim. E ali andando, vi a Gleiciany dar mais de 30 “boas tardes” às pessoas da vizinhança e receber de volta talvez uns 3. E isso não diminuía sua simpatia diante das pessoas.
Um pouco mais de sol e... finalmente! A Casa Missionária.
Um espaço maravilhoso! Árvores frutíferas na entrada, um lindo jardim, tudo muito bem cuidado. Frases bíblicas em todo canto. Quarto das meninas, dos rapazes, quarto de um casal, quarto do pastor e sua esposa. Vento fresco, pássaros cantando... A sala, a cozinha onde acontece muita coisa: partilha do alimento, partilha de vidas, admoestações, conversas profundas. O escritório onde o pastor idealiza muitos projetos... fiquei curioso mesmo para compreender o processo criativo dese homem que me parecia mais e mais interessante.
Percebi que a Casa Missionária é a casa dele, aberta às pessoas que decidem vir para o treinamento. Adorei a ideia que me pareceu muito cristã, casa aberta, portas e janelas abertas, me lembrei de Gandhi, um outro herói meu que fundou um ashram de muito trabalho e oração. Lá para cima, o morro onde tem uma trilha com uma vista que diziam ser maravilhosa. Fiquei curioso: quando poderia subir lá?
O pastor Simião chegou. Que figura carismática e simples. Já o conhecera na igreja mas ali pudemos conversar por mais de uma hora. Respeitoso, foi respondendo às minhas curiosidades de pesquisador do mundo psíquico e aceitou falar um pouco de sua história, conversão, mundo mental de sonhos e revelações e de como tudo aquilo ali aconteceu. Há uma similaridade muito bonita com diversos outros grupos comunitários das mais diferentes tradições religiosas, especialmente monásticas. Fiquei curioso por poder ver isso num meio evangélico. E há também muitas singularidades que merecem também uma pesquisa específica (alguém que fazer tese sobre o tema?). A história empreendedora e de liderança do pastor, vem antes da sua conversão, onde já atuava no meio do esporte em sua comunidade em Realengo-RJ. Já era um homem de arrastar positivamente os jovens atrás de si, longe do mundo das drogas e da criminalidade. Já era corajoso e forte diante de um contexto de marginalidade, sendo respeitado por todos.
Nos comovemos quando ele disse da importância de um professor chamado Ivo, da Escola Municipal Lima Barreto (Realengo), quando ele estava com 15 anos, na quinta série, que o ajudou a despertar o desejo de ir além na vida, ultrapassar os limites da pobreza, buscar transformação social. Esse professor de estudos sociais parece realmente vivo no olhar sonhador do pastor Simião, que acredita mesmo em ajudar crianças e jovens a brilharem na vida e construírem um mundo melhor.
Grandes amigos ficamos rapidamente. Um homem na sintonia do bem. Com clareza teológica, especialmente na sobriedade no que diz respeito às profecias, fato que eu iria mais tarde observar no culto da noite: revelações sobrenaturais? teve? que bom. Não teve? que bom também. O essencial é o amor, é a horizontalidade nas relações, é o respeito ao outro, é a promoção social. À luz de Max Weber, ética acima da magia. O que não impede de sentir dentro de si as ideias transcendentes, os chamados, a intuição criativa... Mas garantiu: isso não é o mais importante na igreja. Deus é livre para se manifestar como quiser. Não podemos ficar presos e limitar Deus a se comunicar conosco de um jeito só, me explicou o Aerton, querido amigo que há 14 anos está ali militando ao lado do pastor.

Água no fogo, mais um cafezinho? Mas antes, calçou o tênis e fomos pegar a trilha acima e contemplar a paisagem lá do alto. Gostar de viver, gostar da natureza, dos tucanos, macacos, plantas, jacus e formigas; gostar de pipoca doce. Um líder espiritual com um coração de criança. Que maravilha! E que maravilhosas são essas pessoas que estão aqui convivendo e crescendo como pessoas humanas. Vivendo ali, cada momento é um ato de serviço. Fazer a pipoca ao visitante, receita pastoral, é o maior serviço que se pode fazer a Deus...
Fiquei impactado pela trajetória desses missionários que, como aqueles que optam pela vida religiosa, fazem uma entrega total, deixam a família de origem para servir em outras cidades e mesmo países.
Fiquei fascinado com o contexto no qual essas pessoas tomam “a” decisão. Todas movidas por um impulso de sentido de vida, que vem do coração, num rumo de uma vida nova onde tudo é imprevisto, incerto. É uma entrega que exige o ultrapassar da mente controladora, da mente que quer segurança, que quer planejamentos calculados. É uma ousadia, um jogar-se no risco, um lançar-se na vida, sem se preocupar com o dia de amanhã. Muita coragem em nome de uma única certeza que brota de dentro, num espaço de escuta íntima e transcendente.
Fiquei impactado pela radicalidade de suas escolhas de vida. Lembrei dos meus heróis espirituais como Madre Teresa de Calcutá, e, claro, me envergonhei de mim mesmo. Mas ao mesmo tempo encontrei nessas histórias, algo que estou procurando para mim: a não-mente, o não-controle, o deixar-se surpreender pelo que a vida traz, como é o caso do encontro amoroso. A gente não decide: "agora vou me apaixonar", é algo que acontece. O que devemos é estar de coração aberto ao novo, ao imprevisto, ao inexplicável da vida. Estou amando o inexplicável. E sinto que essas pessoas também. Porque veem a presença do Mistério exatamente nisso. E isso as alegra.

E de coração aberto fui ao culto da noite.
Desci do carro como quem cai do cavalo de um olhar de um pequeno burguês de classe média secularizada que sempre ridicularizou a roupa bonita do povo simples que vai a igreja. Vestir-se bem. Por que não? Com sua melhor roupa, como vovó dizia que devíamos homenagear um aniversariante por exemplo. E por que não na celebração do maravilhoso que é a oração e o encontro com Jesus?

Lindo culto. Simples.

Pastor Simião está em sintonia com o movimento ecumênico ao enfatizar que não se dá dinheiro para receber algo em troca de Deus, que Deus dá independentemente de sua doação. E que a verdadeira doação é de si mesmo, é de renúncia do ego. Um homem contra a maré em tempos de mercantilização da fé. Essa coerência muito me agradou. Músicas, orações sinceras, pregação com boa fundamentação bíblica e aquele gestual todo, aquela corporeidade evangélica maravilhosa. Erguer os braços, por que não? fechar os olhos e se balançar, se prostrar de joelhos, por que não? no caminho do diálogo interreligioso a primeira coisa que aprendi é que para viver a experiência do outro é precisa entregar-se o máximo possível na semântica do outro (inclusive corporal). Diálogo é mais que etnografia, é entregar-se para viver a experiência. E foi maravilhosa. O coração se preencheu de um amor infinito e transbordante, o peito chega a doer de tanto amor. A descrição é impossível, a emoção transpõe palavras. Ali naquele encontro transcendente, acolhido pelos braços amorosos de um sacerdote sincero e honesto, deixei o ego morrer um pouco mais e me integrei na unidade com Deus, com o "algo" que vai governar meu destino, com a comunidade. O ego morre, a vida individual é abandonada para que a vida seja vivida a partir de um outro centro, o Senhor. Se essa entrega é definitiva? É certo que não. Há tanto ego a ser superado, tantas trilhas de montanhas a subir... Se estou convertido? É certo que sim. Como Dom Pedro Casaldáliga, "mudo de Deus a cada dia", e a família espiritual tornou-se ainda maior. Como disse a Gleiciany: sou da família. Só espero que me aceitem assim, como ovelha negra... e branca e amarela e vermelha e azul, na multicolorida diversidade da humanidade da qual sou parte, da abundância dos caminhos maravilhosos, de um Deus maravilhoso, que semeia sua maravilhosa palavra através de pessoas muito, muito, muito maravilhosas.

Gratidão!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Neruda / Quando eu morrer...

Quando eu morrer quero tuas mãos em meus olhos;
quero a luz e o trigo de tuas mãos amadas
passar uma vez mais sobre mim seu viço:
sentir a suavidade que mudou meu destino.

Quero que vivas enquanto eu, adormecido, te espero,
quero que teus ouvidos sigam ouvindo o vento,
que cheires o amor do mar que amamos juntos
e que sigas pisando a areia que pisamos.

Quero que o que amo continue vivo
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas
por isso segue tu florescendo, florida.

Para que alcances tudo o que meu amor te ordena,
para que passeie minha sombra por teu pêlo,
para que assim conheçam a razão do meu canto.
Neruda, Pablo 1904 – 1973
Cem sonetos de amor – tradução Carlos Nejar – Porto Alegre
L&PM 2008

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Transformação familiar


Fogo é vida e morte.
Contemplando-o reflito sobre meu lugar ante a minha ancestralidade.
Herdeiro de meus antepassados
acolho e agradeço pelos valores e potenciais que trago em mim.
Entretanto,
recuso e me desfaço daquilo que,
para mim,
já não me serve mais.
Que a luz que brilhar em mim,
ao longo de minha jornada,
possa honrar a todos vocês.
Que todos vocês brilhem comigo, partilhando os méritos.
E que cada um,
no seu tempo
e onde estiver,
faça também sua alquimia interior
seu processo de transformação.
Vivo, e vivem - todos - em mim.
Vivo, e liberto do que não quero mais
deixo-os viverem livremente também.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Viver o presente: sabedoria hindu e... indígena!


Fico cada vez mais impressionado com a proximidade das concepções indígenas de vida e as que se desenvolveram ao longo dos milênios na Índia. Cá com minhas fantasias fico imaginando onde a cultura indígena chegaria não fossem os invasores europeus. E a comparação me dá clareza para entender a Índia, com sua ancestralidade milenar e riquíssima diversidade.
Estou lendo Mundurukando, um livro de Daniel Munduruku, autor de diversos livros expressando como educador a sabedoria de vida de sua cultura. Há muito a aprender.
Especialmente a viver o momento presente sem a mente racional controladora. Ele diz:

“A gente não filosofa a respeito da vida. Nossos avós nos lembram sempre que a vida é para viver, e não para filosofar. Quando você filosofa, você sofre, pois tenta amarrar o tempo. Você tenta amarrar o seu futuro a seu presente, o que é um grande equívoco para o pensamento indígena. Não atuamos dessa maneira, não temos intelectuais – no sentido acadêmico – que ficam imaginando se a vida pode ser melhor se fizermos isso ou aquilo. A gente simplesmente vive.” p. 28

O educador também desmente a ilusão de que índio vive em harmonia porque está próximo da natureza. Não, diz ele, há que se lidar com o sofrimento também. E para isso, desenvolveram uma sabedoria própria, que novamente tem a tônica na busca pela vida no momento presente, no aqui e agora:

“Desde criança aprendemos a conviver com o sofrimento. E, apesar de não ser um sofrimento ansiado ou procurado, somos obrigados a aprender a lidar com ele com uma forma de afugentar uma vida triste, composta de choro e depressão. E sabemos que, vivendo o presente, permitimo-nos viver os momentos sem nos preocupar com o que vem depois, o que não deixa de ser uma atitude instintiva de grande sabedoria.” p. 29

E aqui, as analogias com a sabedoria hindu são impressionantes, pois ao lado da busca pela vida espontânea, sem a racionalização que procura tematizar passado e futuro, surge o ideal da possibilidade de atingir o máximo da experiência de vida, que é o silêncio, que é a única maneira de estar por inteiro nas situações, integrando corpo e mente:

“(...) o nosso silêncio não é o silêncio de boca. Um silêncio em que a boca está apenas fechada é um silêncio que as pessoas até fazem aqui na cidade. O silêncio difícil é o do pensamento, quando a gente não permite que o pensamento crie asas e vá para lugares em que o nosso corpo não está. O difícil na cidade, e o difícil para nós também, na aldeia, é estar inteiro em algum lugar, ouvindo pessoas ou passeando com os filhos, enfim, estar ali, presente.” p. 35

E ao falar da importância da oralidade, relaciona essa tradição de memorizar as histórias com a necessidade de um povo nômade de não acumular bens, inclusive livros nas estantes. Isso expressa um valor fundamental, que também conecta as civilizações: o ideal do desapego.

“Um povo nômade sabe que é um povo que está de passagem, está andando por este planeta. Não por estar mudando de lugar, mas porque, dentro de si, ele também está de passagem, assim como todas as pessoas (...) Estamos vivendo aqui, agora, e temos de viver com intensidade, mas sabendo sempre que somos apenas passageiros. E passageiros não podem acumular coisas.” p. 33-4

Viva o presente, seja inteiro e intenso em cada situação, elimine o pensamento e desapegue-se. Sim, há muito que aprender. Um aprendizado prático que pode enriquecer nossas vidas e revolucionar nossa forma de viver em sociedade.


Bom trabalho a cada um!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Yoga, Política ou Amor? - Tempo e Eternidade na mitologia Hindu


Um dos dilemas que surgem entre os buscadores está o de tornar-se um iogue e se isolar na floresta ou participar do mundo com um nível de consciência mais elevado. No livro de Joseph Campbell, onde ele é entrevistado por Bill Moyers, "O poder do mito", o mais importante mitólogo de nosso tempo, nos lembra de um antigo mito hindu presente nos Upanishades, acerca do deus Indra, que nos dá uma interessante visão a esse respeito. É uma bela história!

"Aconteceu, numa certa época que um monstro gigantesco engoliu toda a água da terra, de modo que houve uma terrível seca e o mundo se viu em péssimas condições. Indra levou algum tempo até se dar conta de que possuía uma caixa repleta de raios e tudo o que tinha de fazer era lançar um deles sobre o monstro, fazendo-o explodir. Quando ele fez isso, as águas jorraram e o mundo se refrescou. E Indra disse: "Que sujeito formidável eu sou!"       
    Assim, pensando no sujeito formidável que era, Indra se dirige à montanha cósmica, que é a montanha do centro do mundo, e decide construir um palácio à altura do seu valor. O melhor carpinteiro dos deuses põe-se a trabalhar e rapidamente o palácio está erguido e em excelentes condições. Mas cada vez que vai inspecioná-lo, Indra tem idéias mais ambiciosas a respeito de quão esplêndido e grandioso o palácio deveria ser. Por fim o carpinteiro exclama: "Meu Deus, ambos somos imortais, e não há limites para os desejos dele. Estou preso por toda a eternidade!". Então decide dirigir-se a Brahma, o deus criador, para reclamar.
    Brahma está sentado num lótus, o símbolo da divina energia e da divina graça. O lótus cresce no umbigo de Vishnu, o deus adormecido, cujo sonho é o universo. Assim, o carpinteiro se aproxima da borda da grande lagoa de lótus do universo e conta sua história a Brahma. Brahma diz: "Pode ir para casa, eu darei um jeito nisso". Brahma deixa seu lótus e se ajoelha para se dirigir ao adormecido Vishnu. Vishnu apenas esboça um gesto e diz qualquer coisa como: "Ouça, fuja, alguma coisa vai acontecer".                
     Na manhã seguinte, no portal do palácio que estava sendo construído, aparece um belo garoto negro-azulado, com um bando de crianças ao seu redor, admirando o esplendor da construção. O porteiro, que estava na entrada do novo palácio, corre até o Indra e este diz: "Bem, mande entrar o garoto". O garoto é levado até o Indra, e o deus-rei, sentado em seu trono, diz: "Seja bem-vindo, jovem. O que o traz ao meu palácio?"
    "Bem", diz o garoto com uma voz que soa como um trovão rolando no horizonte, "ouvi dizer que você está construindo um palácio como nenhum Indra antes de você jamais construiu". 
    E Indra diz: "Indras antes de mim... de que você está falando?"
    O garoto diz: "Indras antes de você. Eu os tenho visto vir e desaparecer. Pense nisto, Vishnu dorme no oceano cósmico, e o lótus do universo cresce em seu umbigo. No lótus se assenta Brahma, o criador. Brahma abre os olhos e um mundo se cria, governado por um Indra. Brahma fecha os olhos e um mundo desaparece. A vida de um Brahma conta quatrocentos e trinta e dois mil anos. Quando ele morre, o lótus se desfaz e outro lótus se forma, e outro Brahma. Agora pense nas galáxias para além das galáxias, no espaço infinito, cada qual com um lótus, com um Brahma sentado nele abrindo e fechando os olhos. E Indras? Deve haver homens avisados em sua corte que se prestariam a contar as gotas de água dos oceanos ou os grãos de areia nas praias, mas nenhum contaria aqueles Brahmas, muito menos aqueles Indras".
     Enquanto o garoto fala, um exército de formigas desfila pelo chão. O garoto ri, ao vê-las; os cabelos de Indra ficam arrepiads, e ele pergunta ao garoto:    "Por que você ri?"
    O garoto responde: "Não pergunte, a menos que você queira ficar magoado".
    Indra diz: "Eu pergunto, ensina-me". (Esta é, aliás, uma bela idéia oriental: não ensine, até ser instado a isso. Você não pode impor seu conhecimento goela abaixo das pessoas.)
    Então o garoto aponta para as formigas e diz: "Todas antigos Indras. Através de muitas vidas, eles se elevam das mais baixas condições à mais alta iluminação. Aí eles lançam um raio sobre um monstro e pensam: 'Que sujeito formidável eu sou!' E voltam a despencar."    
    Enquanto o garoto fala um velho iogue extravagante adentra o palácio, com uma folha de bananeira servindo como pára-sol. Ele veste apenas uma tanga, e tem no peito um chumaço de cabelos formando um disco, no centro do qual metade dos pelos foram arrancados.
    O garoto o saúda e pergunta-lhe exatamente o que o Indra ia perguntar: "Bom velho, qual é o seu nome? De onde você vem? Onde está sua família? Onde está sua casa? E qual o significado dessa curiosa constelação de cabelos em seu peito?"
    "Bem", disse o velho, "meu nome é Cabeludo. Eu não tenho casa, a vida é muito curta para isso. Só tenho este pára-sol. Não tenho família. Apenas medito nos pés de Vishnu e penso na eternidade, e em quão fugaz é o tempo. Você sabe, toda vez que morre um Indra um mundo desaparece - coisas assim somem como uma faísca. Cada vez que morre um Indra cai um fio de cabelo desse círculo em meu peito. Até agora, metade dos cabelos já se foram. Muito breve, todos terão ido. A vida é curta. Por que construir uma casa?"
    Então os dois desapareceram. O garoto era Vishnu, o Senhor Protetor, e o velho iogue era Shiva, o criador e destruidor do mundo, que tinha vindo exatamente para a instrução de Indra, que é simplesmente um deus da história que pensa que é o espetáculo todo.
    Indra continua sentado no trono, completamente desiludido, completamente abatido. Aí chama o carpinteiro e diz: "Estou suspendendo a construção do palácio. Você está dispensado". Assim o carpinteiro conseguiu seu intento. É dispensado do trabalho e não há mais nenhuma casa a construir.
Indra decide se tornar um iogue, para apenas meditar aos pés do lótus de Vishnu. Mas ele tem uma bela rainha chamada Indrani. E quando Indrani ouve falar no plano de Indra, dirige-se ao sacerdote dos deuses e diz: "Agora ele pôs na cabeça essa idéia de largar tudo para se tornar um iogue".
    "Bem", diz o sacerdote, "Venha comigo minha senhora e eu darei um jeito nisso".  
   Então eles se sentam diante do trono do rei e o sacerdote diz: "Pois bem, eu escrevi um livro para você muitos anos atrás sobre a arte da política.Você ocupa a posição de rei dos deuses. Você é a manifestação do mistério de Brahma na esfera do tempo. Isso é um alto privilégio. Saiba apreciá-lo, honrá-lo e lide com a vida como se você fosse quem realmente é. Além disso, vou agora escrever um livro sobre a arte do amor, assim você e sua esposa saberão que, no maravilhoso mistério dos dois que são um, Brahma também está radiantemente presente".
    E com estas instruções Indra desiste da idéia de largar tudo para se tornar um iogue, e descobre que, na vida, ele pode representar o eterno como símbolo, pode-se dizer de Brahma.
 

    Assim, cada um de nós é, de certo modo, o Indra de sua própria vida. Você pode escolher, ou se livrar de tudo e se isolar na floresta para meditar, ou permancer no mundo, tanto na vida de sua tarefa, que é a régia tarefa da política e da realização, quanto na vida do amor por sua mulher e família. Bem, esse é um mito muito atraente, assim me parece..."

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O que é coragem?


"Coragem significa enfrentar o desconhecido apesar de todos os medos. Coragem não significa ausência de medo. A ausência de medo acontece se você passa a ser cada vez mais corajoso. Essa é a experiência máxima da coragem - a ausência de medo: é esse o sabor quando a coragem tornou-se absoluta. Mas, de inicio não há muita diferença entre o covarde e o corajoso. A única diferença é que o covarde dá ouvidos aos seus medos e os segue, enquanto o corajoso os põe de lado e segue em frente. O corajoso enfrenta o desconhecido apesar de todos os medos. Ele conhece os medos, eles estão ali.
Quando você explora mares desconhecidos, como Colombo fez, o medo existe, um medo imenso, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Você está deixando a praia da segurança. Você está perfeitamente bem, em certo sentido; só uma coisa está faltando - aventura. Enfrentar o desconhecido dá a você certa excitação. O coração começa a pulsar novamente; volta a se sentir vivo, totalmente vivo. Cada fibra do seu ser está vibrando porque você aceitou o desafio do desconhecido.
Aceitar o desafio do desconhecido, apesar de todo o medo, é coragem. Os medos estão ali, mas se você aceita o desafio várias vezes seguidas, devagarinho os medos desaparecem. A experiência de alegria que o desconhecido traz, o grande êxtase que começa a acontecer com o desconhecido, torna você forte o bastante, lhe dá uma certa integridade, aguça sua inteligência. Pela primeira vez você começa a sentir que a vida não é só um tédio, mas uma aventura. Então devagar os medos desaparecem; e aí você não pára mais  de ir atrás de uma aventura."
Osho, em "Coragem - o prazer de viver perigosamente"

Caminho da meditação

Passos by Milena do Vale Madeira
Passos, a photo by Milena do Vale Madeira on Flickr.

"Para um homem, tornar-se um meditador é a maior responsabilidade que há no mundo. Não é fácil. Não pode ser instantâneo. Portanto, desde o início, nunca tenha expectativa demais, assim, você nunca ficará frustrado. estará sempre feliz, pois as coisas crescerão lentamente.
A meditação não é uma flor de estação, a qual aparece em seis semanas. É uma imensa árvore. Precisa de tempo para espalhar suas raízes."
Osho

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Procurando o amor da sua vida?

Você que espera o amor de sua vida. Você que procura o amor de sua vida. Sim, tenho um conselho pra você, um caminho a indicar: procure amar a si mesmo. Procure desenvolver amor por si mesmo, aceitar a natureza que tem dentro de você, caminhar na busca de ser autêntico, natural, e amar mais a vida e a si mesmo, ter mais prazer e alegria de viver. Se você não sabe como fazer isso, posso dar uma dica: você precisa quebrar seu códigos velhos, seus antigos padrões que insistem em te diminuir, em te proibir, te culpar, te colocar contra a vida. Voltemos às origens da vida, o nome já diz, a origem da vida é originalidade! Você precisa ser original. Então se você está reproduzindo padrões, tem algo forçado, tem algo te forçando a ser o que você não é. Amar a si mesmo é tirar as máscaras. Aí sim, o amor começa a acontecer e aquele que você espera e procura poderá ser encontrado. E enquanto seu amor não aparecer você poderá ter a surpresa de se descobrir mais pleno e feliz. Mas, nunca, nunca, nunca, finja ser alguém para conquistar alguém. Aí está o começo do erro, o princípio das relações doentias que perpetuam a infelicidade na sociedade humana. Amar é mais importante do que conquistar. E ninguém pode se forçar a amar. O amor precisa acontecer. Então seu único movimento natural é: ser você. Muita paz!

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Desprendido e natural: deixa o corpo vibrar... fique vazio como um bambu oco...


Eis um texto do Osho, explicando um método de prática tântrica. Li, senti segurança, pratiquei e gostei. O trecho é do livro "Tantra: a suprema compreensão." E achei digitalizado pelo pessoal do Metamorfose. http://www.centrometamorfose.com.br/artigos/tantra_6_grande-ensinamento.htm

"Na Indonésia, existe um homem muito singular, Bapak Subuh. Sem o saber, ele desenvolveu um método conhecido como latihan. Esbarrou nele, mas latihan é um dos mais antigos métodos do Tantra. Não é um fenômeno novo; latihan é o primeiro passo em direção a Mahamudra. É o deixar que o corpo vibre, que o corpo se torne energia, não-substancial, não-material; é o deixar que o corpo se funda e dissolva as fronteiras.
Bapak Subuh é muçulmano, mas seu movimento é conhecido como Subud. Trata-se de uma palavra budista: Subud vem de três palavras: su, bu, dhaSu significa sushila, bu significa Buda,dha significa Dharma; Subud significa sushila-Buda-Dharma. O significado é: “a lei da grande virtude deriva de Buda”, a lei budista da grande virtude. A isto é que Tilopa chama o Grande Ensinamento.
Latihan é simples. É o primeiro passo. É preciso estar relaxado, desprendido e natural. Será bom que estejas a sós e que ninguém te venha perturbar. Fecha teu quarto e fica a sós. Se puderes encontrar alguém que já chegou ao latihan, sua presença poderá ser útil, sua simples presença atuará como agente catalítico, ajudar-te-á a te abrires. Assim, alguém que já esteja mais avançado pode abrir-te muito facilmente. De outra forma, também tu podes abrir-te a ti próprio, levando apenas um pouco mais de tempo, só isso. De qualquer maneira, é bom ter alguém que nos ajude a abrir-nos.
Se um abridor estiver a teu lado e começar o latihan, fica ali; a energia dele começará a pulsar contigo, começará a mover-se em torno de ti, como um aroma que te rodeasse - e, subitamente, começas a sentir a música. Tal como se ouvisses um bom cantor, ou alguém tocando um instrumento, começas a marcar o compasso com o pé, ou marcas esse compasso numa cadeira, ou começas a pulsar com ele. É assim que uma profunda energia se move dentro do abridor e todo o quarto e a qualidade do quarto são imediatamente modificados.
Tu não tens de fazer nada: tu tens, simplesmente, de estar ali, desprendido e natural, apenas esperando que algo aconteça. E, se teu corpo começar a mover-se, deixa que o faça, deves cooperar e permitir. A cooperação não deve ser demasiado direta, não deve impelir. Deve apenas permanecer como uma permissão. Teu corpo começa a mover-se, de repente, como se estivesses possesso, como se uma grande energia vinda de cima houvesse descido sobre ti; como se uma nuvem te houvesse rodeado. Agora, estás possuído por aquela nuvem e a nuvem está penetrando dentro de teu corpo, que começa a mover-se. Tuas mãos se erguem, fazes movimentos sutis, inicias uma pequena dança, suaves gestos - teu corpo está tomado.
Se sabes alguma coisa sobre escrita automática, será fácil acompanhar o que acontece em latihan. Na escrita automática, seguras um lápis na mão, fecha os olhos, esperas e, de súbito, sentes um arranco na mão: tua mão torna-se possessa, como se algo nela tivesse entrado. Nada precisas fazer, porque, se o fizeres, teu gesto não virá do além, será ação tua. Tu, simplesmente, deves permitir. Desprendido e natural: as palavras de Tilopa são maravilhosas e não são passíveis de qualquer melhora. Desprendido e natural esperas, com o lápis na mão, os olhos fechados. Quando sentes o arranco e a mão começa a mover-se, deves permitir; isso é tudo. Não deves resistir, porém podes resistir. A energia é muito sutil; no início não se mostra poderosa. Se a fizeres parar, ela parará facilmente, não será agressiva. Se não permitires que venha, não virá. Se duvidares, ela não virá, porque, com a dúvida, tua mão oferecerá resistência. Estando em dúvida, não permitirás; lutarás. Por isso é que a confiança é tão importante - shradha. Tu apenas confias e deixas tua mão solta. Aos poucos, a mão começa a mover-se, começa a fazer rabiscos no papel - deixa que ela faça isso. Então, alguém pergunta alguma coisa, ou tu mesmo perguntas alguma coisa. Que essa pergunta fique solta em tua mente, não com muita persistência, nada forçando. Faze a pergunta, apenas, e espera. De repente, a resposta é escrita.
Se dez pessoas tentarem, pelo menos três serão inteiramente capazes de fazer a escrita automática. Trinta por cento das pessoas não têm consciência de que podem tornar-se receptivas. E isso poderia tornar-se uma grande força em tua vida. A respeito de o que acontece, as explicações diferem - mas isso não importa. A mais profunda explicação que conheço, a que eu considero verdadeira, diz que teu mais alto centro toma conta do teu mais baixo centro; teu mais alto ponto de consciência toma conta da tua mais baixa mente inconsciente. Perguntas e teu próprio ser íntimo te responde. Ninguém está ali, além de ti, mas teu ser íntimo, que não conheces, é muito superior a ti. Teu próprio e recôndito ser é tua florescente e definitiva possibilidade.

É como se a flor tomasse conta da semente e respondesse.
A semente não sabe -
Mas é como se a flor, tua possibilidade,
tomasse posse da tua realidade e respondesse;
é como se tua possibilidade definitiva
tomasse posse daquilo que és e respondesse,
ou como se o futuro tomasse posse do passado,
ou o desconhecido tomasse posse do conhecido,
o destituído de formas tomasse posse da forma
- tudo isto é metáfora, mas sinto que compreenderás a significação - como se tua velhice tomasse posse de tua infância,
e respondesse.

O mesmo acontece com o latihan, com o corpo todo. Na escrita automática, deixas a mão solta e natural. No latihan deixas todo teu corpo solto, esperas, cooperas e, de repente, sentes um impulso: tua mão te ergue sozinha, como se alguém a levantasse com fios invisíveis - deixa que isso aconteça. A perna começa a mover-se; dás uma volta, inicias uma pequena dança, muito caótica, sem ritmo, sem gestos, mas, aos poucos, conforme a sensação se torna mais profunda, toma seu próprio ritmo. Então, já não é caótica; toma sua própria ordem, torna-se uma disciplina, mas não forçada por ti. Essa é a tua mais alta possibilidade tomando posse de teu mais baixo corpo, e movendo-o.
Latihan é o primeiro passo. E, gradualmente, sentirás como é belo fazer isso, sentirás que está acontecendo uma união entre ti e o cosmos. Mas esse é apenas o primeiro passo. O primeiro passo, em si mesmo, é muito belo, mas não é o último passo. Eu gostaria que o completasses. Durante trinta minutos, pelo menos - sessenta seria maravilhoso -, e, aos poucos, poderás ir dos trinta aos sessenta minutos, para o latihan dançante.
Em sessenta minutos teu corpo, de poro a poro, de célula a célula, fica limpo. É uma catarse; estás completamente renovado, toda a sujeira foi consumida. Por isso é que Tilopa diz: Em Mahamudra todos os pecados são consumidos. O passado é atirado ao fogo. É um novo nascimento, um renascimento. E sentes a energia derramando-se sobre ti, por dentro e por fora. E a dança não é só externa. Depressa, quando te sintonizares com ela, sentirás uma dança interior também: não só de teu corpo, que está dançando, mas também da energia interna que também está dançando, ambos cooperando um com outro. E, então, acontece a pulsação; sentes como se pulsasses com o Universo - encontraste o ritmo universal.
Trinta a sessenta minutos, esse é o tempo: começa com trinta, termina com sessenta. Até que, mais tarde, chegues ao tempo exato. E saberás: se te sentes sintonizado a quarenta minutos, então esse é o teu tempo correto. Então, tua meditação deve ir além disso; se te sentes sintonizado aos dez minutos, vinte minutos serão suficientes. Dobra o tempo; não arrisque nada, para ficares inteiramente limpo. E termina com uma prece.
Quando estiveres completamente limpo e sentindo que teu corpo está refrescado - estiveste sob um chuveiro de energia e todo o teu corpo sente-se um, não-dividido; a substancialidade do corpo perdeu-se, tu o sentes mais como uma energia, um movimento, um processo não material - estarás pronto. Ajoelha-te, então.
Ajoelhar-se é muito belo, tal como o fazem os sufis ou os muçulmanos quando oram em suas mesquitas. Ajoelha-te como eles, porque essa é a melhor postura para a oração. Então, ergue as duas mãos para o céu, com os olhos fechados, e procura sentir-te como um recipiente vazio, um bambu oco. Oco por dentro, tal como um pote de barro. Tua cabeça é a boca do pote e a energia verte sobre tua cabeça, como se estivesses sob uma cachoeira. Depois do latihan sentirás isso: como uma cachoeira e não como um aguaceiro. Quando estás pronto, ela cai com mais força, intensamente, e teu corpo começa a tremer, a sacudir-se, como uma folha sob vento forte. Se alguma vez estiveste sob uma cachoeira, conheces a sensação. Essa mesma sensação irá ter contigo depois do latihan. Procura sentir-te vazio por dentro, nada dentro de ti, apenas vacuidade - e a energia preencherá esse vazio, preencherá completamente.
Deixa que a energia caia sobre ti tão profundamente quanto possível, de forma que alcance o mais afastado recanto de teu corpo, de tua mente, de tua alma. E, quando sentires que estás repleto e que todo o teu corpo estremece, curva-te, leva a cabeça ao chão e derrama energia sobre a terra. Quando sentires a energia transbordar, derrama-a sobre a terra. Toma do céu, devolve à terra, e sê, entre ambas as coisas, apenas o bambu oco.
Isso deve ser feito sete vezes. Toma do céu e derrama sobre a terra, beija a terra e derrama - esvazia-te completamente. Esvazia-te tão completamente como o fizeste para ficar repleto; esvazia-te completamente. Então, ergue de novo as mãos, enche-te outra vez e torna a derramar. Isso deve ser feito sete vezes, porque, a cada vez, a energia penetra em uma das chakras, um dos centros do corpo e, a cada vez, penetra mais profundamente em ti. Se fizeres menos de sete vezes, te sentirás inquieto depois, porque a energia ficará suspensa em algum ponto.
A energia tem de penetrar todas as sete chakras do teu corpo, de forma que te tornes completamente oco, uma passagem. A energia cai do céu para a terra, tal como a eletricidade: a eletricidade pede um fio-terra. A energia vem do céu e tomba sobre a terra; tu te tornas uma ligação entre ela e a terra, apenas um bambu oco, um recipiente passando a energia. Sete vezes - mais podes fazer, mas não menos. E será o Mahamudra completo.
Se fizeres isso diariamente, muito em breve, dentro de mais ou menos três meses, sentirás que não mais existes. Somente a energia estará pulsando no universo, não há ninguém, o ego perdeu-se completamente, aquele que atua não existe. O universo existe, e tu existes nele, onda pulsando com o oceano - isso é Mahamudra. Esse é o orgasmo final, o mais beatífico estado de consciência possível.
É como dois amantes fazendo amor, mas multiplicado por milhões - porque agora estás fazendo amor com todo o Universo. Por isso é que o Tantra é conhecido como a Ioga do Sexo, o Tantra é conhecido como o Caminho do Amor."

sábado, 17 de agosto de 2013

O centro de si mesmo



Encontrar o próprio centro. Nessa reflexão Osho fala que meditar é centralizar-se. É o contrário de ser excêntrico, que significa estar fora de seu centro. Excêntrico seria quem segue a opinião de todos e é empurrado de acordo com a vontade e opinião dos outros. Centralizar-se é o contrário: "é a primeira coisa para se chegar à naturalidade e desprendimento."
"Deves ir ao teu próprio centro. Ouve tua voz interior, sente-a e obedece a ela. Gradualmente saberás rir das opiniões dos outros, ou ser-lhes simplesmente indiferente. E, desde que te tornes alguém centralizado, passas a ser alguém poderoso. Então ninguém poderá aguilhoar-te, ninguém poderá empurrar-te para parte alguma - ninguém ousará fazê-lo. Serás tal poder, centralizado em ti mesmo, que qualquer pessoa, aproximando-se com uma opinião, simplesmente a esquece ao se chegar a ti. Quem quer que venha forçar-te a ir a algum lugar simplesmente esquecerá que vinha para forçar-te. Ao contrário, ao se aproximar, ela começa a sentir-se conquistada por ti. Assim é que um homem sozinho pode tornar-se poderoso, a ponto de toda a sociedade, toda a História, não poderem movê-lo numa só polegada. Por isso é que um Buda existe, um Jesus existe. Podes matar um Jesus, mas não podes forçá-lo. Não que ele seja irredutível ou obstinado; não, ele está, simplesmente, centralizado em seu próprio ser - sabe o que é bom para si, sabe o que é beatífico. Isso já aconteceu; não o consegues atrair para novas metas, não há capacidade de sugestão que o leve para outro alvo. Ele encontrou seu lar. Pode ouvir-te pacientemente, mas não podes movê-lo. Ele está centralizado." Bhagwan Shree Rajneesh (Osho) - Tantra: a suprema compreensão, p. 220.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Viver é uma experiência extraordinária


Viver é uma experiência extraordinária. E é quando a gente percebe essa riqueza toda da qual somos parte, que nosso ser se abre em gratidão à existência. Sim, é bom viver. Mas para perceber isso, e para que essa percepção seja verdadeira, e não só de palavras, precisamos nos permitir nos libertar das amarras internas, das falsas crenças psicológicas amedrontadoras, dos nós emocionais que nos bloqueiam. Eu me permito. E me volto a Deus, à Vida, à Existência, chame como quiser chamar, e digo: "Eu me permito ser a flauta que a Existência sopra dentro de mim. Eu me permito ser o bambu oco, vazio de ego, sem pensamentos próprios, sem pensamentos controladores, puramente espontâneo, dançante e vibrante ao som da música, sou esse bambu através do qual o Senhor vai preencher com o sopro de vida." Sim à Vida. É prazeroso demais existir. Ser parte desse Todo. Que você que está lendo essas palavras possa experimentar também o êxtase da Vida. Que você possa ser tocado por essa força. Que você tenha coragem de experimentar quebrar seus bloqueios internos, sair do comodismo, dos hábitos mentais que te aprisionam. Escuta seus desejos, seu coração, Seu Mestre é o seu coração. Comece a experimentar isso. Confia, Entrega. Não se prenda. Quando você se prende é super-ego, é porque seu ego quer atender às pressões que os outros representaram para você na sua jornada. Agora é tempo de se libertar e procurar ser você mesmo. Mas os passos você precisa dar. Se entrega e confia nessa busca. No inicio tudo pode parecer confuso, mas com o tempo você vai encontrando respostas e o caminho vai se mostrando cada vez mais e mais prazeroso. É a néctar da vida. Se permita experimentar. Viver esse êxtase, e desbloquear seu interior para que o sopro da Vida possa passar. Um abraço carinhoso. Seja feliz. Seja feliz. Seja feliz.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Quem vê perigo no poder militar?


Há uns 6 anos, em minhas turmas de ciência política eu dizia: "hoje eu estou falando aqui livremente, daqui há um tempo talvez eu seja preso. A política tem seus ciclos". 
Há uns 2 anos, vendo os comentários conservadores no facebook (especialmente depois do episódio da PM invadir a USP, e os comentários eram contra os 'maconheiros' e não contra a ilegalidade dessa invasão) comecei a postar: "do jeito que a coisa vai, parece que a massa deseja um poder militar no Brasil"
Ai, ai... a ingenuidade nunca vê o ovo da serpente!
Nas últimas 3 décadas de abertura democrática conteve-se a pobreza com uma polícia discricionariamente assassina. Ou seja, uma democracia manchada do sangue dos pobres. A classe média silenciou (Hoje quando os protestos se tornam mais violentos a classe média reclama e deseja uma unidade mais pacífica. Não conseguem. E não veem que as contradições expressam a própria contradição social diante da qual silenciam por anos?)
A bandeira que se ergueu denunciando esse estado de coisas proclamava a necessidade do respeito aos direitos humanos. E, quantas vezes ouvimos repetidamente a classe conservadora fazer coro à ideia de que direito humano é desculpa para defender bandido, que tem mesmo é que bater, etc. 
Hoje, e talvez amanhã com mais intensidade, corremos todos o risco de ser alvo dessa mesma violência policial. Será que não veem?
Aliás, cresci com um medo inconsciente da polícia, quando devia ser o contrário (ver no policial aquele que me protege, como aquele tio fardado que parava o trânsito para as crianças atravessarem a rua na porta da escola). "Chame o ladrão", cantou Chico Buarque.
Até quando vamos dar poder a essas forças obscuras?
Quem comanda a PM?
Até quando vamos protelar a construção de um Estado que garanta direitos a todos?
Até quando vamos desacreditar desse ideal?
Até quando?
Eu creio na nova geração!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Diálogo entre a criança e um professor amoroso


Diálogo entre a criança e um professor amoroso:
- Nunca mais vou num enterro. O da minha avó foi o último, tio.
- Por quê?
- Porque ficam gritando.
- Como assim?
- Toda vez que jogavam terra no caixão, eu ouvia os gritos.
- Quem gritava?
- Minha avó.
- E ninguém ouvia, só você né?
- É. E aí eu falava e ninguém acreditava em mim.
- Ela gritava de dentro do caixão ou de fora? (tentei explorar)
Ela buscou na memória e respondeu sinceramente:
- Não sei.
- Eu acredito em você.
- Tá maluco?
- Eu acredito.
- Tá doido, imagina se a sua avó aparece, vai puxar o seu pé.
- Que nada, seria minha avó.
- Você não tem medo?
- Tenho medo do zumbi da televisão, da minha avó não.
- Tá maluco.
E assim terminamos um diálogo. Depois disso me emocionei. Não sei exatamente porque. Meu coração dói ao ver as crianças desde cedo rejeitando os fatos que lhe ocorrem em nome de uma verdade do mundo dos adultos. Se eu dissesse que acredito em vida após a morte, em espíritos tudo bem. Mas eu só disse que acreditava nela. E mesmo assim ela me chamou de louco. É, em nossa ordem estabelecida pelo poder dos adultos, acreditar em criança é loucura.